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Naqueles tempos

Naqueles tempos, não sabia qual era a minha orientação sexual. Pelo menos, tentei abnegar o lado homossexual, frequentava eu o 8. ano, o de todas as hormonas saltitantes. 

Naqueles tempos, não se falava em assédio sexual, muito menos por parte de professores a alunos. Claro que existiam professores(as) enrolados com alunas(os) no Secundário, mas todos eram bem mais crescidos do que eu. Com a entrada de Portugal na CEE e a chegada de novas revistas ao país, um dia, ao ler um artigo, no qual uma mãe confidenciava a experiência do filho, que com todos os rapazes da turma e o professor batiam punheta no centro da sala, finalmente entendi o que se passava.

Nas aulas de madeiras, em trabalhos oficinais, o professor frequentemente fazia-se esfregar no meu corpo. O mesmo se aplicava a uma prima. Confidenciava o que podíamos fazer nas traseiras da sua carrinha fechada. Não recordo os termos, talvez por uma certa infantilidade ou nojo. Por vezes, sentia-me excitado perante aquela figura máscula e peluda. Associava toda aquela figura humana a um membro com uma glande farta e bonita, num membro grosso e duro, como queria ter. Ao mesmo tempo, no seio da turma, referia que a minha maneira de ser mudaria com o tempo. A maneira que já então me envergonhava exposta. Proteção? Alguém que foi igual?

Ignorando os seus avanços, ou nem os compreendendo, eu e a tal prima acabámos por ter negativa no 2.º período. Fui acusado de ter destruído o meu banco, quando os mais velhos deitaram-no abaixo. Com receio, ao utilizar um instrumento para furar a madeira, enganei-me no lado. Na verdade, estava em pânico. Naquelas salas parecíamos sardinhas em latas de conserva.
Ainda hoje acredito que ele queria aquilo que nunca lhe demos. Apesar de adolescentes, ambos eramos muitos sensuais, mas nenhum de nós estava disponível para alguém tão estranho. Creio ter tido medo...


Assumo: era vaidoso, experimentava ir além do comum nos tempos (recordo quando pintei as unhas de incolor só para chocar) e queria ser mulher, apenas por estas serem mais bonitas do que os homens e por gostar de cremes e alguma maquilhagem. O estilo 80s combinava com a minha expressão facial e olhar. Dizem que caminhava de maneira estranha "partindo-me todo". Talvez quisessem dizer "efeminado". Se soubessem o que era ter um pai violento, talvez compreendessem o desejo em não ser homem. 

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